A gestão de Salvador parece ter um único projeto consolidado: multar. Seja nas ruas, nas ciclovias, nas calçadas ou nas praias, o grupo político liderado por ACM Neto e executado por Bruno Reis encontrou na punição a base de seu modelo administrativo. As 357 mil multas de trânsito registradas em apenas seis meses são apenas o sintoma de uma cidade onde o cidadão é o inimigo.
Esse padrão de governo se repete em todas as áreas. Para os veículos particulares, radares e agentes se tornaram armadilhas permanentes. Para quem tenta pedalar ou usar patinete, o risco de ser multado é real. E agora, até quem se diverte na praia com uma caixa de som pode ser enquadrado como infrator. Tudo com base em leis duras, pouco debatidas, e com alto poder arrecadatório.
A desculpa da segurança pública é repetida à exaustão, mas o que se vê é um esforço concentrado em fiscalizar, punir e arrecadar. As campanhas educativas são insuficientes, e a infraestrutura viária continua deficitária. O problema é sistêmico, mas a solução oferecida é sempre a mesma: uma nova multa.
Enquanto isso, a cidade carece de políticas públicas robustas, mobilidade eficiente, cultura incentivada e inclusão social. A Salvador da multa é também a Salvador da omissão, onde se governa com olhos de águia para o erro do cidadão e com vendas nos olhos para os problemas estruturais.
Governo que ama multar não governa para o povo. Governa contra ele.
